Escola é para brincar
Por Izabel Leão
A pressa em ensinar uma criança de três anos a ler e escrever pode trazer mais danos do que benefícios. Quem faz esse alerta é a professora Tizuko Morchida Kishimoto, do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da USP.
lkjhgfSegundo ela, um dos grandes erros da educação infantil atualmente é a preocupação de pais e escolas em dar mais importância ao ato de aprender a ler e escrever do que brincar. "Crianças em idade pré-escolar devem brincar, porque é através da brincadeira que elas se expressam, se relacionam socialmente, interpretam seu cotidiano, inventam histórias, respeitam e tomam decisões."
lkjhgfO problema é que nem a família nem a escola dão valor para esse aspecto. Elas acreditam que por conta da rapidez das mudanças que vêm ocorrendo no mundo a criança que já tiver esse aprendizado adquirido vai estar na frente das outras. "Ledo engano", enfatiza Tizuko. "A criança que desenvolveu a fantasia, que sabe argumentar, se expressar, essa sim, está na frente. Já a criança que ficou copiando, reproduzindo, pode até, no início, mostrar um ganho, saber algumas letras, no entanto, no futuro, será uma criança sem criticidade, que não sabe argumentar, que não tem flexibilidade, porque só sabe fazer o que se manda. A falta de tempo para aprender a se expressar dá origem a uma criança sem iniciativa, limitada do ponto de vista da ação." Tizuko acredita que o projeto educacional das escolas infantis deveria antes de fazer com que a criança entre em contato direto com letras e números, passar antes pelo movimento, pela expressão de gestos, da dança, música, do falar, do se expressar em diferentes linguagens, reinventar histórias, até chegar às palavras que têm uma coerência de textos, do ponto de vista de frases. "Esse processo não é respeitado nem pelas escolas nem pelos pais", argumenta.
lkjhgfPara pais e mães preocupados com esse tempo da criança Tizuko dá algumas dicas que podem ajudar no ato da escolha da escola. O primeiro passo é observar se a escola compreende mais cadeiras e mesas nas salas de aula do que espaços para as brincadeiras. "Ao se bater o olho numa escola que trabalha com crianças pequenas e que só tem cadeiras e armários para se guardar o material, onde a sala é extremamente arrumada, tudo no lugar, é uma escola que não respeita a expressão da criança. Nesse caso não é a criança que entra em ação, e sim o professor que fica o tempo todo mandando pintar, desenhar, etc."
lkjhgfAgora, se a escola tem na própria sala de aula um cantinho para a leitura, para o teatro, para brinquedos, vê-se que é uma instituição que valoriza a ação e a própria autonomia da criança para escolher.
lkjhgfTizuko aconselha os pais a visitarem a escola pessoalmente, conversarem com o coordenador, participar ativamente. "Observar o espaço com olhos críticos já é um bom começo, pois é difícil para os pais entenderem as questões pedagógicas", analisa. Outra dica da professora é observar se a escola tem desenhos do Mickey, Pato Donald, florzinhas, ou qualquer outra figura preestabelecida decorando a escola. "Esse é um caso de escola que valoriza a cultura do adulto para enfeitar, reproduzir imagens que não são da realidade das crianças. No entanto, se a sala de aula tem os trabalhos da meninada colados nas paredes, com os materiais dispostos na altura delas, e além de desenhos tem esculturas, colagens, etc. é um bom sinal de que está-se valorizando vários tipos de linguagens", enfatiza Tizuko.
lkjhgf Perceber a qualidade do ensino que é oferecido ao seu filho não é um bicho-de-sete-cabeças. Tizuko acredita que através dessas pequenas dicas os pais já podem exigir um pouco mais de qualidade das escolas. "Querer participar do desenvolvimento da criança é refletir o espaço que ela ocupa para adquirir o conhecimento, e observar constantemente a produção dessa criança", aconselha a professora e faz uma ressalva: "Tem escolas que estão cheias de brinquedos nas salas de aula e, no entanto, são meros enfeites nas prateleiras. É preciso estar atento se esses brinquedos estão disponíveis para serem usados".
Berçários
lkjhgfHá berçários que procuraram se modernizar e trocaram os berços por acolchoados espalhados pelo chão, com almofadas para proteger o bebê e com vários brinquedos. Só assim a criança tem um espaço para explorar, se manifestar, ao invés de ficar presa no berço.
lkjhgfOutra dica é quanto à quantidade de bebês por adulto. Segundo Tizuko, cinco bebês no máximo por adulto. Mais do que isso já passa a ser considerado um depósito de bebês.
Disponível em:
http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2001/espaco05fev/editorias/capa.htm.
Em 16/09/07
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